Um punhado de coisas em 2020
- Arnaldo Recchia
- 30 de dez. de 2020
- 2 min de leitura

Já virou uma tradição para mim. O crepúsculo do ano se aproxima e eu opto por roubar uns minutos do frenesi social para rever os últimos doze meses, atos, escolhas e acontecimentos. Imagino que numa tentativa de validar algumas benfeitorias e não deixar tudo na conta da roupa a ser usada na madrugada nascente do próximo ano.
2020 não cabe num verbete só. Já escrevi sobre anos intensos, agitados e anos que me ensinaram coisas. Mas o 2020 foi além e acredito que para a maioria das pessoas também. Se eu precisasse escolher uma só palavra, eu diria que o ano foi definido pelo proselitismo. Todos, casuísticos ou não, abraçaram causas ou pautas de forma a se cegarem. Isso, ao meu ver, tornou o ano mais difícil ainda.
Este ano que se encerra teve um começo promissor, metas altas e objetivos cristalinos. Todavia, como sabemos a vida não está nem aí para o nosso planejamento.
Em “vinte-vinte” aprendi novas formas de aprender. Cansou, desidratou, irritou, frustrou. São inúmeros os qualificativos para este ano, contudo penso que foi um ano que me permitiu ser “louco de cara” na melhor parábola a canção de Vitor Ramil. Um ano em que cozinhei como sempre e engordei como nunca. Aprendi a fazer pão e linguiça caseira. Dei consultoria de um monte de coisa que eu não sei. Aprendi um monte de outras coisas que eu já sabia. Conheci e me despedi. Sorri e me decepcionei com outras pessoas e comigo mesmo. Viajei menos que o planejado. Palestrei, opinei e escrevi. Li menos que gostaria e mais que antes. Vi a depredação da consciência de sociedade, testemunhei o estremecer da democracia e fiquei pasmo com o que li, ouvi e assisti.
O ano, ainda parafraseando Ramil, mostrou-me que se lucidez fosse como caminhar e eu percebesse que não ando, algo teria valido a pena. Pois diante de tanta obscuressência, sobrou-me luz. Fino e longínquo, mas persistente facho de luz. Descobri que não há razão para tudo. Que ser racional não é remédio. Também descobri que há um mundo entre o lógico e o absurdo e esse abismo é muito próximo, como uma brincadeira colegial com elásticos. Um passo em falso e você tropeça, ou na melhor das hipóteses, conhece alguém não tão lógico assim.
2020 foi o ano de re-significar. De re-aprender e de olhar para o ‘in’. Retomei um projeto antigo. Reencontrei bons amigos. Desnudei velhos arlequins. Fui censurado, fui ameaçado e, ao melhor estilo de jornalismo que amo, sorri e brindei aos censores.
Um ano que mostrou uma face assustadora. As noites de insônia trouxeram a Bournout e os pensamentos draconianos. A re-invenção e a ousadia de sonhar me permitiram abrir as cortinas. Mudei. Mudamos. Sonhei. Sonhamos.
E me reencontrei.
Dias difíceis foram maioria, mas hoje, com a tranquilidade do distanciamento temporal percebo que foram eles que tornaram os poucos e intensos dias bons mais saborosos.
Em 2021, desejo aprender mais. De um jeito menos turbulento. Que tenhamos, todos, muitos motivos para sorrir durantes os próximos doze meses.
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